Desastre criminoso das barragens de rejeito em Mariana.
Manifesto
do Fórum das Pastorais Sociais do Regional Leste II
“A terra é
dom do Criador” (Dt 8,7)
As Pastorais Sociais do Regional Leste II da CNBB[1],
compreendendo os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, reunidas nos dias 6
a 8 de novembro, na Casa de Retiros Nossa Senhora da Alegria, centro do
complexo de barragens das mineradoras dos municípios de Ouro Preto e Mariana,
diante da catástrofe causada pelo rompimento das barragens Santarém e Fundão no
dia 5 de novembro, denunciam o crime contra a vida, o meio ambiente e a
biodiversidade, provocado pelas companhias Vale e Bhp Billiton (Samarco).
A exploração
mineral no Brasil vem crescendo de forma desordenada e irresponsável. Ela é
resultado de uma
política de apropriação extensa de territórios, de bens naturais, culturais e
recursos hídricos por grandes grupos econômicos. Este fenômeno tem provocado
impactos violentos a povos, comunidades e territórios; tem gerado conflitos em
toda sua cadeia: remoções forçadas
de famílias e comunidades, poluição das nascentes, dos rios, do ar, poluição
sonora, desmatamento, acidentes de trabalho, de trânsito, falsas promessas de
prosperidade, concentração privada da riqueza e distribuição pública dos
impactos, criminalização dos movimentos sociais, descaracterização e
desagregação sociocultural.
Esta política
excludente foi denunciada pelo Fórum Social da Arquidiocese de Mariana em 2012,
em sintonia com o testemunho de Dom Luciano Mendes de Almeida: “Toda atividade mineradora e industrial deve ter como
parâmetro o bem estar da pessoa humana, buscando a superação dos impactos
negativos sobre a vida em todas as suas formas e a preservação do planeta, com
respeito ao meio ambiente, à biodiversidade e ao uso responsável das riquezas
naturais”[2].
Este desastre
criminoso acontece dentro de uma sequência de outras tragédias ocorridas em
várias regiões do país. Em Minas Gerais, destacamos: Miraí, Muriaé, Espera
Feliz, Nova Lima/Macacos e Itabirito. As empresas mineradoras que as provocaram
ficaram impunes e as famílias atingidas sem direitos garantidos.
Esse modelo
depredatório e desumano parece não ter fim. Segundo os dados do DNPM[3]
existem mais de 700 barragens de rejeito em Minas Gerais, dentre as quais, 43
em alto risco de rompimento, algumas com potencial maior do que as de Santarém
e Fundão, causadoras de danos humanos e ambientais irreversíveis como a
contaminação da água na bacia do Rio Doce. Esta tragédia agravou ainda mais a
crise hídrica na região, prejudicando a vida de milhões de pessoas de Minas
Gerais e Espírito Santo. A Vale vem matando sistematicamente o Rio Doce.
Como cristãos
representantes das Pastorais Sociais, em sintonia com os apelos do papa
Francisco na encíclica Laudato Sí, corresponsáveis pelo cuidado com a Casa
Comum, exigimos que o Estado garanta o cumprimento de direitos das populações
atingidas e afetadas, proteja o meio ambiente e puna com rigor os culpados.
Em comunhão com
Arcebispo de Mariana Dom Geraldo Lyrio Rocha, fazemos nossa suas palavras: “A
tristeza é grande, a dor é profunda, os prejuízos são enormes, a desolação não
tem tamanho... Entre os escombros brotam sinais de vida e ressurreição. Deus
está presente. O Ressuscitado comunica vida onde está a morte. O Espírito Santo
acende a chama da esperança no meio dos gemidos de desespero.”
Distrito de Antônio
Pereira/Ouro Preto – MG, 7 de novembro de 2015
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